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Poesia - 2006 / 2015 |
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2015 |
Eternidade | ||
Eternidade é “morrer” em ti abandonado ao teu corpo pulsante, reviver, num instante, ao suspiro do desejo insaciável que te toma e me volta a subir pelo corpo, morno, abrasador, envolvente.
Esquecemos as horas apressadas, o tempo é nada, apenas paixão pura que demora para além de nós, da loucura dos corpos estremecidos, das nossas bocas fundidas, dos olhares perdidos no fundo do ser, derretidos no vulcão, quente e húmido, do prazer.
Avelino Rosa Odivelas, 23-12-2015 |
Rosas clandestinas | ||
Amo-te com rosas clandestinas brotadas do chão de pedra quente sémen de um vulcão inebriado…
Em ti encontrei a beleza pura prazer redentor e amargurado jura de ter e dar tudo por inteiro
Canteiro imaginado e ausente semeado de lava solidificada pronta a florir deste tudo e nada.
Avelino Rosa Odivelas, 20-09-2015 |
Despido de mim | ||
sentir-me assim, despido de mim perdido numa memória qualquer anoitecida num crepúsculo tardio
não sei se quero reviver a tua imagem saborear o teu corpo por amanhecer para mim, vazio de ti, azul o sonho do teu vestido por abrir e os dedos
trémulos da ilusão de te querer!
Avelino Rosa Odivelas, 19-09-2015 |
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Sou de todo o lado | ||
Sou daqui e dacolá… Sou de ti nos dias em que desperta o desejo mais aceso Sou do Mundo em cada notícia que me toca a alma aberta Sou de quem me lê e gosta ou odeia Sou de todos os que me querem classificar em qualquer modelo em que nunca me hei de encaixar.
Mas sou teu, em cada olhar fugaz em cada beijo fugidio e comprometido no roçar os corpos e toque das mãos caminhando pelas estradas de sempre nas conversas às avessas que temperam o fim e o princípio de nós, amantes.
Do arco íris, do Infante, das histórias que reinventamos dos factos e non sense da vida por viver sobre a toalha da mesa palavras que o vento leva serra acima fertilizando a floresta e cada arbusto.
Sou teu e de todo o lado… Teu, por direito, querer e destino!
Avelino Rosa, Odivelas, 06-06-2015 |
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Tátá |
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Tátá foi-se da minha vida assim como quem sai do cabeleireiro ao lado cabelo tratado, unhas de gel
Menina mimada, rebelde engraçada no jeito de se dar detestável no modo de pensar e de ser por inteiro Mulher
Deu-lhe um vaipe e foi-se lesta porta afora, com a mala Vuitton cabelo tratado, unhas de gel fiquei besta, debaixo do edredom pele ainda morna , sorriso rasgado:
- Que bom!
Avelino Rosa Odivelas, 22-05-2015 |
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Morrendo em ti |
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O cigarro acende uma fogueira breve teus olhos incandescentes iluminam a noite
aparição dos meus dias ingénuos e devassos pauta descompassada da sinfonia distorcida que ressoa de outro lado
algures, o cigarro, a música invadem-me de cheiros e fico quedo, morrendo em ti.
Avelino Rosa Odivelas, 22-05-2015 |
Desinteressada |
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Colados os bocados te achei inteira
Breves instantes da loucura recriada no vórtice dos medos segredos só nossos
Musa e senhora corri pela noite buscando palavras sonhando esperanças ternas lembranças adulteradas
Colados os bocados te achei inteira te encontrei distante desinteressada.
Avelino Rosa, Odivelas, 08-05-2015 |
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O teu Retrato |
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Colo todos os bocados que os sentidos captam compondo, peça a peça o teu retrato, imaginando o que escondes dentro do olhar rebelde e terno com que me perscrutas desse lado do espelho
O puzzle que encaixo acentua o vazio em mim Para além do nada, tudo renasce em agonia tolerada de vulcão, de lava arrefecida sabendo a ti, depois a nada
Avelino Rosa Odivelas, 01-05-2015 |
Poesia (Dia da Poesia) |
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(Ficaria mal se não fizesse um poema no dia Mundial da Poesia…)
É isto não-sei-quê que acontece ver nascer sob os dedos hesitantes que brota do fundo das emoções sustento de lava, queimando e ferindo ou de cinzas frias espalhadas ao vento
É isto que a boca saboreia, dizendo que o corpo sente, extravasando-se num lamento ou alegria extasiada um pouco de tudo ou quase nada
Que alinha palavras em frases, notas numa pauta de sons e tons à espreita de ser subentendida pelo intérprete que a possa executar, dando-lhe vida
Perdidos que estamos nas emoções no vórtice da loucura dos sentidos.
Avelino Rosa Vilamoura, 21-03-2015 |
Babel aqui ao lado | ||
Aqui ao lado, de Babel confundido da torre sobre o dilúvio enxugado zigurate de tijolos e betume seco ambicionando tocar o céu de Javé
Proibido das delícias do paraíso por culpa própria, desnorteado por julgar ter perdido o toque suave e enfeitiçado da tua pele morna e sequiosa das carícias que reivindico apenas minhas
Em mesopotâmias e babilónias perdido, digo, num eco vibrante que viole os teus ouvidos: ILY!
Avelino Rosa Odivelas, 13-03-2015 |
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Estátua fria |
Perdi a inspiração numa terra de Espanha ou de outro país qualquer
Só sei que foi longe do verso, do ponto central do meu Universo
Já não sei como lidar com as palavras e os sons tudo fica com os tons de uma estátua fria.
Avelino Rosa Odivelas, 28-02-2015 |
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Cesto de vime | ||
A força parte o vime a habilidade molda-o.
Entrançado no cesto que trazes à cabeça sobre a rodilha de pano o vime é uma memória das mãos calejadas que o torcem e ajeitam do cheiro a verde e novo da esperança trazida de casa à terra amanhada da merenda merecida quando o sol vai a meio e consola os homens que ainda sonham ou deixaram de sonhar pelas veredas de silvas.
Sobre a toalha de pano xadrez o cheiro da linguiça e inhames do bolo da fornada da manhã come-se com sofreguidão no silêncio do altar improvisado saboreando o vinho que escorre pelas gargantas ressequidas e, só então, se contam histórias - de circunstância, da vida gasta ou inventada em imaginação mais curta que um serrado.
Há muitos anos, teci um cesto de vime fresco e puro, com as mãos de criança que ainda queria ser tudo - não sei dele nem que destino teve ficou apenas a memória de ver o sol multicolor, raiar por entre as frechas do vime entrelaçado, cesto inacabado de uma história em que me perdi algures, nos meandros da fantasia.
Avelino Rosa Odivelas, 28-01-2015 |
Pedra de mármore | ||
Aposto que sou feito de mármore com veios e nervuras desenhados por toda a pedra, num emaranhado de sangue e de linfa impregnados de pez prestes a aquecer e incendiar numa imolação lenta e purificadora
Mas se assim a pedra vive por dentro debatendo-se em vulcão tumultuoso por fora aparenta a enigmática rigidez da pedra de mármore fria e ausente.
Avelino Rosa Odivelas, 11-01-2015 |
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Escondendo segredos | ||
Vais ver que eras apenas uma sombra breve de um passado longínquo perdido na bruma da memória
Vais ver que eras o sonho que sonhava diluído nos lilases e azuis que floresciam no nosso mar
Vais ver que eras o que ainda és, que somos crianças, brincando aos poemas escondendo ingénuos segredos.
Avelino Rosa Odivelas, 02-01-2015 |
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2014 |
Fantasma Fantasia | ||
Foi como sentir-te sentada estendendo o braço sobre o banco a mão dada sobre as folhas secas quebradiças do fim de outono
Foi assim que me visitaste fantasma da minha fantasia invisível e morna na ternura da aragem que trouxe o perfume do teu corpo, beijando-me a face
Foi assim que te senti, inteira perfeita. O sonho que alimento.
Avelino Rosa Odivelas, 28-12-2014 |
O Grito | ||
Abro as mãos e aponto-as ao Céu das ponta dos dedos saem fios de luz irregulares e invisíveis aos humanos - são o segredo da sucessão dos dias. Fazem nascer a noite, a lua e estrelas o sol, as montanhas, o horizonte coado pela neblina que se adensa do mar e corre, faminta, a esconder a cidade.
Não sei porquê, nunca vou entender esta vontade cósmica de me diluir assim num traço de uma tela expressionista.
Avelino Rosa Odivelas, 21-12-2014 |
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O Grito_EdvardMunch_1893 |
Quero ser Mar | ||
(Refrão) Quero ser quero ser como o vento nas velas brancas dos barcos que partem para nenhum lugar fracos e sem alento, renascem a navegar, a navegar
Quero ser quero ser a espuma que voa rodopiando esparsa no ar que soa a quilhas a rasgar as ondas de sonhos e poesia cheirando a maresia sem mar para navegar, para navegar
Quero ser quero ser como a nota solta que foge da guitarra a soluçar desfeita da corda que corta destinos e medos de embalar as vidas que a gente esconde e ajeita aonde já não há mar para navegar, para navegar.
Avelino Rosa Odivelas, 14-12-2014 |
Grito do silêncio | ||
Sei lá porque me refugio no silêncio das palavras porque as desalinho num desatino insondável feitas fragmentos, bocados de raízes por colar
Sei lá porque elas se soltam e gritam o que eu queria calar.
Avelino Rosa Odivelas, 07-12-2014 |
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O tempo morre devagar | ||
O tempo morre devagar
Morreu o tempo devagar por entre os meus dedos escorrendo em fios invisíveis desfiando a vida em bocados
Decepados
O gesto de cerrar os punhos não traz de volta nada nem adia a realidade apenas me culpa por a ter apressado.
Avelino Rosa, Odivelas, 29-11-2014… |
Beijo com sofreguidão | ||
Beijo-te, com a sofreguidão do jejum da tua ausência imaginando-te nas noites vazias em que sonho não sei se acordado em que me imolo num fogo brando depois da fogueira ateada em labaredas
Pelo meio, espraio-me pelo teu corpo unjo os seios firmes, os mamilos rijos com a boca molhada, a língua ondulada percorrendo a tua pele, bebendo néctar da flor que desabrocha semiaberta
Entro no teu corpo, húmido e quente aos ritmos da maresia e do furacão insano que varre a areia, a espuma das ondas até provocarem maremotos, marés vivas subtilmente transformadas em cansaços devassos das bocas, das nossas línguas
Beijo-te com sofreguidão…
Avelino Rosa Odivelas, 11-11-2014 |
Plantação de letras | ||
Plantei um poema… Nasceu um pepino do avesso pequeno, travesso e maldoso vesgo e bexigoso, risca preta ao longo do corpo esponjoso
Enjeitado, larguei-o na gamela do porco gordo, sujo, esfomeado engolindo-o num trago ruidoso
Aleivoso, o gato, bicho-do-mato alvitrou num miado desdenhoso - Em vez de letras, planta diferente pão e salsicha, com boa mostarda na certa nasce um cachorro quente que, como o poema, sabe a nada.
Avelino Rosa Odivelas, 01-11-2014 |
Essa Força | ||
Essa força vem das entranhas
Atira-se à rocha, volta desarrumada parte-se em farrapos de espuma espalhada ao vento, escorrendo nas veias que dão vida ao corpo de lava e maresia dos picarotos
Olhar o céu é ver o cume, forma despertando o desejo, alimento a paixão de ilhéu presa no tempo vaga revolta, que embala e mata de saudades de ti, longe de mim.
Avelino Rosa Odivelas, 20-10-2014 |
Poema naufragado | ||
Os teus e Levado pelo vento, entrou na água subiu, meio submerso, a crista da onda Caiu, com a folha desbotada, volteando no tubo da vaga surfada pelas emoções Abeirou-se ainda da praia, no suspiro que antecede o refluxo do mar espanto e Senhor de si e das vidas que sustenta
Mas o poema foi apenas mais um destroço lançado nas rochas, barreira intransponível de uma qualquer ilha deserta e longínqua que já só dizia apenas: “- Amo-te e…”
Por vezes, o amor é um poema naufragado.
Avelino Rosa Odivelas, 18-10-2014 |
Beleza | ||
Os teus e os meus olhos profundos em ânsia, perscrutam-se mutuamente mergulhados na visão espelhada dos lábios molhados, da pele colada dos corpos confundidos no ser uno no sexo húmido , entranhado, em êxtase dentro de nós, percorrendo as artérias que explodem em azuis e violetas deixando o cheiro intenso e perfumado
A beleza és tu em mim!
Avelino Rosa, Odivelas, 14-10-2014 |
Pernil de porco | ||
Pernil de porco no forno feito por abadessa secular por mais que aconteça morno, quente ou a escaldar sabe sempre a sobremesa
Antes ou depois do jantar…
Avelino Rosa Odivelas, 12-10-2014 |
Rosto lavrado | ||
Fui a lonjura, o segredo, o esquisso de pintura do teu rosto lavrado em palavras arrancadas da terra ressequida, do arado agreste e cortante desafiando a rocha que vem do interior solidificado - subsolo de camadas sobrepostas, crostas de feridas
Vivi na ilusão de pintar o teu retrato, fiel e real entrando na moldura que me faria parte de ti
Na doce tontura dos poetas inconsequentes.
Avelino Rosa, Odivelas, 02-10-2014 |
Droga de vida | ||
Escolho a veia melhor, já a ressequir aperto o garrote e injeto o preparado
Seringa nova abrindo novo sonho…
O corpo estremece, os olhos cerram e vagueio por um espaço sempre novo formas multicolores em metamorfose corpos eufóricos, sem rostos nem pecado
A cor desbota em cinzentos brilhantes sobrevém a calmaria lânguida e angustiante sintomas anunciadores da ressaca amanhecida
De novo sonho para viver procurando a morte qualquer dia, sem remorsos, ao entardecer.
Avelino Rosa, Odivelas, 26-09-2014 |
Futuro atrasado | ||
Perdi-me, algures, num tempo esquecido em mim, esvaído nas lágrimas de sangue morno, rebelde, depurativo e libertador - És apenas passado, história não escrita vagamente lembrada em dias de anoitecer
Ainda me dou por perdido, no verbo e ser a contas com o destino que me persegue por entre brumas e espinhos que cravam na tontura dos girassóis que perdem o Sol na alegoria de paixões inquietas e perenes no esvoaçar das aves que chegam e partem céleres e permanecem em lugar nenhum
Já não sou eu, nem ave, nem réptil apressado apenas a sombra de um dia, de um momento fantasma, solitário e estigma, de te ter amado à espera nem sei de quê, mas de um futuro atrasado.
Avelino Rosa Odivelas, 19-09-2014 |
Análise ao sangue | ||
Uma análise ao INR pode desesperar… Se o sangue está espesso demais e há o perigo de um AVC, para quê tanta demora, de mais de 24 horas?
Se tiver o tal derrame e flipar doo a colheita de sangue à analista que talvez tenha uma secreta predileção por válvulas de coração e sobretudo um fraquinho pelo sangue deste miúdo que é quente, saboroso e singular
Se assim for e quiser experimentar, com o produto bem mais liquidificado garanto-lhe mesmo que o gosto e travo são um must, de saborear em banquete sobretudo em hemorragia inerente superior ao premiado vinho do Sado
E assim fico à espera da tal analista responsável máxima pelo meu futuro vampirística ou simples apreciadora de um bom e depurado vinho maduro.
Avelino Rosa Odivelas, 16-09-2014 |
Escravo do teu olhar | ||
Escravo me fizeste do teu olhar convidando a viagens incondicionais
Navego pelos teus olhos acessos mergulhando no esplendor da descoberta percorrendo planetas, galáxias, universos…
Quedo-me no beijo longo, quente e húmido que recomeça as carícias e emoções intemporais trajes a costurar nas viagens que ficaram por fazer
no corpo uno, nosso, que vamos desvendando.
Avelino Rosa, Odivelas, 14-09-2014 |
Implosão | ||
Corta a corda do coração insolente
Desliga o fio do pavio adormecido
Desarma a arma da bomba latente
Implode de repente com nenhum sentido e sem ninguém notar sabendo ainda a pouco
- Não, não estás louco apenas a amar!
Avelino Rosa Odivelas, 07-09-2014 |
Desnudado | ||
Pedes que me solte, desnude das emoções à flor da pele…
Despir o meu corpo imaginando o escultural e invejável que foi (que uma hospedeira embevecida ia enviando para o Sal em vez de Faial) estou envelhecido e uns quilos a mais mas ainda vivo e sobra-me juventude
Mas não queres só isso, queres mais que deixe fluir as emoções, que perca o controlo do meu corpo costurado e me dilua em ti, no teu próprio corpo percorrendo novos caminhos e universos inimagináveis, por onde me guiarás por onde nunca naveguei e serei simples aprendiz de amante, saboreando o elixir dos feitiços de amor que me destinarás
Sim, solto-me, para entrar no teu corpo desnudado, puro e imaculado, pronto para os ensinamentos da sacerdotisa da minha floresta de medos esconjurados.
Avelino Rosa Odivelas, 31-08-2014 |
Estrela Marota | ||
Uma estrela caiu do céu sobre um tufo de relva do meu jardim de inverno
Descansando dos dias de verão abandonado ao torpor da lassidão espraiado em purgatório e inferno ofuscou-me com a sua luz intensa e fez de mim quanto quis numa chama ardente, imensa
Quando se foi fiquei feliz… Voltando a vê-la lá no firmamento sorrindo para mim, fiquei sabendo crescendo na volúpia e no prazer que voltaria em todas as noites trespassadas pela angústia de viver.
Avelino Rosa Vilamoura, 29-08-2014 |
Corpo Cansado | ||
O meu corpo cansado precisa de ti - dorme a meu lado num abraço largo Sei que em breve, um frémito percorrerá veias e capilares, aquecendo o sangue fervendo nos lábios, na ponta dos dedos
O teu corpo, o meu corpo, confundidos no desejo que os despe e abre ao vórtice da volúpia que nos agarra, em puro êxtase
De uma noite de loucura e paixão, inesquecível.
Avelino Rosa, Odivelas, 26-08-2014 |
Pedra Inanimada | ||
A pedra inanimada Rachou a cabeça do coelho e pintada de sangue fresco quedou-se num galinheiro Galos e galinhas debicaram partiram os bicos e ficaram mais desmiolados ainda Pintos de paternidade duvidosa ainda sem vícios de capoeira empurraram a pedra inanimada para o bueiro fundo das limpezas levada no rodopio da água imunda E por lá ficaram, galos, galinhas e pintos como se não tivesse acontecido nada
Há uma pedra no cimo de uma escada apodrecida, estropiada.
Avelino Rosa Odivelas, 12-08-2014 |
Poema para ti | ||
(Faço este poema para ti apenas certo que o lerás nas entrelinhas por detrás dos múltiplos asteriscos que escondem a palavra-chave dos nossos encontros e beijos tardios)
Um leve sussurrar ao teu ouvido e a noite acendeu lua e estrelas A Flauta Mágica de Mozart surgiu das paredes encantadas do Castelo Um coro de cigarras irrompeu do jardim A janela mourisca refletia a imagem dos nossos rostos e corpos transfigurados
Daqui ao longe, percorrendo a Via Láctea um grito contido emudeceu a noite e quedou-se na nossa caixa de segredos. Avelino Rosa 08-07-2014 |
Do outro lado da vida | ||
Estive do outro lado da vida, tranquilo, como quem está pronto e expectante… Ouvia apenas os anjos em azáfama: “Está a ir…. Preparar DAE… Esperem… pode ser a Amiodarona… Está a reagir!” E eu não fui. Teimoso, como sou, fiquei. “Quando lembro e o vejo agora assim…” E rimos, eu remoçado, ela feita anjo feliz.
A vida é assim, presa por um fio - só mãos delicadas e experientes o conseguem manipular sem partir.
Avelino Rosa Odivelas, 02-08-2014 (Aos médicos da CUF Infante Santo) |
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Instantes breves | ||
Trouxe-te, hoje entranhada em mim vestida de ternura e segredos contados sob a luz coada dos lençóis
O nosso mundo dos instantes breves Avelino Rosa 07-06-2014 |
Surgiste do nada | ||
Surgiste, assim do nada Lua na penumbra da noite que incandesceu o meu corpo água e sementeira de terra ardida seco e carente de tudo
Trouxeste a doçura do sorriso que se espraia sob a pele a ternura e o calor das carícias que acendem os sóis noturnos
Fica comigo, assim, abraçados antes que o sonho se apague Avelino Rosa 05-06-2014 |
Conformado | ||
Os espinhos já não ferem Gastaram-se inutilmente em infernos e primaveras estéreis
Conformado sou apenas o cato ressequido que sacia ainda a tua sede
Avelino Rosa 12-05-2014 |
Autista | ||
Tu achas que és detentora de toda a razão e explicas todo o comportamento de quem diverge de ti como se tudo se resumisse a um guião de cinema visto, revisto, repetido à exaustão
Nem ouves e menos escutas motivos, indiretas, recados embrulhados em papel colorido só para não afrontar, desencadear a tua soberba costumeira - tu, só tu conta nas tuas contas
E ficas, assim, no desprezo no fingimento das verdades inúteis redundância dos grandes nadas revoltada, amargurada no teu próprio orgulho despedaçado.
Avelino Rosa Lisboa, 22-04-2014 |
Loucura | ||
Não sei se sonhei… Voava por entre nuvens dentro de um arco-íris em espiral que me levava a lugar nenhum
E eu deixava-me ir, embalado pelo som suave das estrelas ondulantes Viajante de mim pelo cosmos que sou até ao sopro do Sol que tudo liquidificou e em água acordei, feito oceano sereno.
Avelino Rosa Odivelas, 10-04-2014 |
Paixão louca | ||
A paixão não perdura sente-se já, agora saboreia-se por fora depois entra na gente e afunda-se irreverente
Então abre caminhos incendeia entranhas rasga segredos, medos move duras montanhas e vai-se nas asas da loucura escorrendo quente e pura
Descansa-se latente até que a gente de novo acorde o vulcão e a lava e o fogo reacenda a paixão
Avelino Rosa Odivelas, 23-02-2013 |
Pontuação | ||
Pisco-te o olho com um ponto e virgula e um parêntese curvo fechando, para retorno de um simples sorriso, que se faz teclando dois pontos e o mesmo parêntese vulgar.
Mas tu preferiste intrigar com a ambiguidade das reticências e do ponto de exclamação, ficando eu sem saber que outro símbolo pudesse desfazer a tua usual excentricidade.
Cliquei dois pontos seguidos de asterisco, sabendo do risco de um beijo intempestivo. mas tu com riso afetivo, descortinas pouco: “- és louco e mais n digo...rsss”, escreveste, como quem se esconde ou teme revelar-se.
Acendeste então uma ternura sem limites no meu corpo faminto de lumes e infinitos e os dedos criaram um coração a palpitar, de um parêntese angular maior e um três.
Desta vez, com candura, replicastes tudo. E ficámos assim toda a tarde, a recriar o amor, as coisas em redor da realidade e do virtual, o mundo dos sentidos perdidos e transviados.
Renovando votos para depois do ponto final.
(Porque a pontuação interioriza o poema!)
Avelino Rosa Odivelas, 9-02-2014 |
Adereços | ||
Gosto do teu corpo imaginado sob os adereços que adornam mas desfocam a imagem da beleza por revelar
Quero amar-te na nudez do teu ser penetrar o teu eu abrigar-me em ti descansar na languidez das planícies alentejanas.
Porque te quero!
Avelino Rosa Odivelas, 02-02-2014 |
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Acendeste um Sol | ||
Acendeste um sol no meu corpo Miríades de centelhas expelem dessa tempestade solar entranhando-se, percorrendo as veias em gotas de fogo
Sucumbo aos teus segredos contados em sussurros e gemidos violando os meus ouvidos riscando-me a pele com as garras de águia que agarra e lava a presa pelos infernos e céus da loucura
Acendeste um sol no meu corpo e o instante breve persiste... Sou uma supernova prestes a explodir!
Avelino Rosa Odivelas, 02-02-2014 |
Ano Novo | ||
O ano Velho escaqueirei-o aos bocados enterrando-os bem fundo já nem sei bem onde
O Novo ainda meio adormecido tosco nos modos e gestos algo pedante na verbalização e pregoeiro de frases feitas
Começa já a envelhecer e a despregar-se em contradições e a esperança fica saudade do alento resignação da revolta e tudo volta pior ao mesmo de antes.
Até que... Grândola floresça e nos apeteça de novo Cantar!
Avelino Rosa Odivelas, 01-01-2014 |
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2013 |
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25 de Abril sempre! | ||
Já não é Abril mas memória gesto contido peito aberto sangrando
(mil estilhaços trespassaram a História decepando a utopial)
Já não é Abril mas insanidade abutres debicando a própria raça festim antecipado de autofagia
Contra ninguém, mas por nós, 25 de Abril sempre!
Odivelas, 24-04-2013 |
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2012 |
Mão da vida | ||
Adormeço dentro de mim Deixando-me escorregar Para o fundo da escuridão
Deixo-me por lá ficar Enrolado no cordão que ainda Me prende à vida a sangrar
Não vejo, não ouço, não sinto Nem o simples murmurar dos ventos Que silvam lamurientos, transviados
E é das profundezas do meu sono Que sonho uma mão acendida na escuridão Rastilho que me traz à vida. Que me devolve à razão.
CUF Infante Santo, 03-12-2012 |
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2011 |
Persistência | ||
Quando a imaginação se espraia para além dos fiapos de luz do horizonte há o risco de o próprio corpo cair no abismo
Mas se o ser resiste, colam-se os pedaços e sobe por um dos quatro cantos da terra renascendo algures ao sabor dos elementos de uma natureza regeneradora, condescendente
O homem é vontade, o querer, a força do saber da razão aliada ao sonho de realizar o impossível tornando realidade o que se julga inatingível
É a persistência do homem que faz evoluir o Mundo Mas é a mesma persistência que mata o homem decepando-o, bocado a bocado, devolvendo-o ao abismo de onde renasceu
Odivelas, 21-08-2011 |
Ao fim da tarde | ||
Era o fim da tarde a praia estava deserta e eu só, ali, olhar fixo num horizonte sem fim
apeteceu-me gritar: amo-te!
Mas aconcheguei-me na areia como se tivesse a cabeça no teu regaço quente como se me acariciasses os cabelos emaranhados
Senti mesmo a tua mão o respirar entrecortado pela brisa e o marulhar
Adormeci sonhando contigo!
Odivelas, 29-01-2011 |
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Mensagem breve | ||
Amo-te com a paixão que reacende em cada olhar furtivo em cada beijo que trocamos
Amo-te em cada lembrança de ti sempre
Odivelas, 22-01-2011 |
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2010 |
Perto e longe (RAP) | ||
O Mundo está assim Perto e longe De mim
Não sei se lute Não sei se cale Esta dor Esta mágoa Que me embala
O Mundo está assim Perto e longe De mim
Quero reagir Poder mudar Sair daqui Talvez para o deserto Um lugar banal Distante e perto
O Mundo está assim Perto e longe De mim
Longe de tudo Perto daqui Longe de todos Sozinho Sozinho
Assim
Odivelas, 04-07-2010 |
Mergulho sem limites | ||
Olho nos teus olhos: grandes, redondos, profundos.
Mergulho neles, sem saberes, sempre que te vejo, sempre que te imagino no breve instante do teu sorriso.
Não sei se sabem a sal ou a mel nem sei nada de ti.
Apenas, que me apetece mergulhar nos teus olhos grandes, redondos, profundos e ficar assim
navegando neles, abandonado.
Lisboa, 12-12-2010 |
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2008 |
Folar do Algarve | ||
Pão amassado dos meus dias, mel dos beijos dados e por dar, canela que retempera a paixão. - És o meu folar doce do Algarve!
Provo-te na levedura crescente, Misturando ingredientes, mexendo saboreando o teu corpo quente, despertando sentidos, tecendo a teia fermentada que dá a forma ao bolo da Páscoa que recriamos a cada dose de dádiva e retoma sentindo cada sensação em pleno do amor contido, agitado e sereno.
Por cada pedaço, um beijo terno, por cada bolo, o amor revive eterno.
Pão amassado dos meus dias, mel dos beijos dados e por dar, canela que retempera a paixão. - És o meu folar doce do Algarve!
Vilamoura, 21-03-2008 |
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2007 |
Afastamento e recato | ||
Afasto-me das coisas fúteis do ruído inútil das quezílias estéreis das vãs e inúteis afirmações que não constroem e desunem.
Da palavra fácil e redundante da altivez que esconde o receio das acusações gratuitas dos tolos que as produzem dos que pensam que tendo um pouco têm a mão cheia de tudo e, afinal, só têm mesmo a mão vazia cheia de nada.
Recato-me, cada vez mais na contemplação das vaidades na observação do carácter na leitura das entrelinhas na conjectura da antecipação da queda dos anjos perenes.
Lisboa, 01-11-2007 |
Quietude enigmática | ||
Quero amar-te assim nessa quietude enigmática nessa pose distanciada controlando com mestria sentimentos e emoções
Porque sei que basta um olhar furtivo um toque de pele para despertar o vulcão que trazes dentro de ti
Mergulhado no vôrtice da paixão incendiado da lava incandescente o meu corpo escorre pelo universo em múltiplas centelhas ardentes espalhadas pelo vento ainda morno pelos quatros cantos da Terra
Vilamoura, 03-07-2007 |
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2006 |
Melro preto | ||
Um melro preto saltita sobre a relva, debicando nas clareiras de terra molhada.
Olha em volta, freneticamente, nervoso, desconfiado. Ao mínimo som ou gesto, nas redondezas, o melro foge e acoita-se entre a ramagem das árvores.
O instinto de sobrevivência faz-me pensar na diferença entre nós e o melro preto: - somos quase iguais, apenas ainda não sabemos fugir, a tempo, do perigo eminente.
Amamos andar na corda bamba, em constante desequilíbrio.
Vilamoura, 09-04-2006 |
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Amor de rosa | ||
Amor, as pétalas da rosa ainda não morreram, mas fecharam na tua ausência.
Amor, a rega é necessária ao florir da rosa. Esta está murcha, acabrunhada, vivendo na esperança do reencontro da tua mão, dos teus beijos quentes dos teus lábios molhados.
Amor, tenho saudades.
Lisboa, 18.08.2006 |
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Tédio de rosa | ||
Desabrochara numa primavera seca, vingara com as agruras da sede e do desespero, pétala, muitos espinhos... Mas firmara-se, colorida, cheirosa, rebelde, assumida. Os anos passaram e a rosa cansou-se do mesmo quintal de sempre, do mesmo latido dos cães, do piar intempestivo das aves, das vozes em surdina da casa, das mãos que a apontavam mas que nunca a tornaram útil.
Desbotou, aos poucos, E morreu de tédio.
Vilamoura, 09-04-2006 |
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